Wednesday, March 04, 2009

Erva daninha a alastrar

"Só eu sei,
Só eu sei que sou terra,
Terra agreste por lavrar,
Silvestre monte daninho,
Amora, fruto sem tratar.

Só eu sei que sou pedra,
Sou pedra dura de talhar,
Sou pedrada em aro,
Calhaus em forma de encastrar.

A cotação é o quiserem dar,
Não tenho jeito para regatear,
Também não sei se a quero aumentar.

Porque eu não sei se me quero polir,
Também não sei se me quero limar,
Também não sei se quero fugir deste animal
Que ando a procurar.

Só eu sei que sou erva,
Erva daninha a alastrar,
Joio trovisco, ameaça
Das ervas doces de enjoar.

Só eu sei que sou barro,
Difícil de se moldar,
Argila com cimento e cérebro,
Nem qualquer um sabe trabalhar.

Em moldes feitos não me sei criar,
Em formas feitas podem-se quebrar,
Também não sei se me quero formar

Porque eu não se me quero polir,
Também não sei se me quero limar,
Também não se quero fugir deste animal
Que ando a procurar.
"

António Variações


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